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Escrever

  • Foto do escritor: Graziella Cato
    Graziella Cato
  • 17 de jan.
  • 2 min de leitura

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A vida torna-se tão corrida aos vinte e tantos anos. Algo que costumava ser uma válvula de escape de uma rotina exaustiva, entre os estudos e a procura de uma oportunidade de estágio que parecia sem fim, foi deixado de lado pouco a pouco. Há quase dez anos, eu tinha a sensação de ter tempo para tudo: o tempo da faculdade e do emprego; o tempo do cursinho de inglês; o tempo de encontrar amigos em uma fila de show aleatória em São Paulo; o tempo de chorar e de escrever.

E, mesmo quando penso sobre essa época, em que tudo me parecia tão simples e se encaixava dentro das horas cronometradas do relógio, vem um sentimento melancólico e até mesmo nostálgico por saber que nada será como antes. Aliás, não se lê o mesmo livro duas vezes. Temo por não ter o mesmo tempo da minha antiga versão jovem. Talvez por, hoje, estar mergulhada em uma rotina intensa, vivendo quase tudo que ela sempre sonhou. Menos parar de escrever: isso não estava nos planos. Houve uma época em que o ato de escrever e a minha antiga "eu" eram indissociáveis. Tudo virava poesia.

Quando penso em voltar a escrever, não digo o escrever simbólico (aquele que é inevitável e soberano, que acontece todos os dias, independente de nossa vontade, até que um dia esse "escrever" se torne a história completa de nossas vidas, terminada, ironicamente ou não, no exato dia em que findamos, deixando, assim, um livro repleto de memórias e aventuras que jamais leremos). Falo do escrever literal: da pena e do papel, da mancha de lágrima que borra a tinta, traspassada em linhas tortas, dando forma a letras nada elegantes ou fáceis de engolir. Esse escrever que lava a alma todos os dias, que nos serve como pequenas anotações e sugestões para os grandes — ou pequenos, há de depender do autor — roteiros de nossas vidas.

Ah, como sinto falta dessa sensação de libertação que deságua no pequeno pedaço de papel, que, mesmo quase em branco, possui a história de uma vida inteira. A dele e a minha.

 
 
 

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