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O que cresce em mim?

  • Graziella Catto, Rafaella Catto
  • 22 de dez. de 2019
  • 3 min de leitura

Atualizado: 30 de mar. de 2020


Raízes errôneas se aprofundam em meu frágil ser. Sinto insegurança ao falar do mal que cresce em mim. Temo que a dor iminente seja insuportável. As idealizações frustradas e os sonhos não realizados me fizeram sentir nojo pelo meu corpo, usado a serviço de um sistema falido – que em troca de meu esforço nada me deu. Sinto a causa de minha angustia em meu peito. Sinto as raízes tomando meu corpo por inteiro, roubando minha identidade ao poucos, me sufocando.

A busca por propósito mantém minha alma aquecida a maior parte do tempo, porque no fundo eu sei que preciso apenas de uma razão para continuar. Procuro constantemente e, por vezes, esse motivo me aparece de diversas formas. Mas tenho uma raiz profunda e venenosa que continua crescendo dentro de mim. Ela me torna feia e indecente, ela me torna fraca e insegura. Carrego essa dor por de trás da máscara que escolhi usar todos os dias, ela não me deixa respirar, mas me torna aceitável e aparentemente forte.

Nota 01

Uma pontada de ansiedade invade meu peito, escolhi lutar, porém continuo a vacilar constantemente em tarefas rotineiras. O medo do amanhã não existe em mim, pois temo o hoje. Tu precisas se ver no amanhã - disseram - mas tenho olhos iluminados e um espírito em trevas, constantemente ansiando no amanhecer a escuridão onde sei, certamente, que estarei segura entre as cobertas de paz.

Recentemente, descobri onde o meu “eu” está escondido, onde a felicidade e o maravilhoso se encontram. - A caixa do tesouro, abra a caixa! - disseram. Mas temo que a chave nunca esteve em minhas posses ou pior, talvez a tenha perdido. Nesse momento em minha vida foi me atribuído este propósito: Percorrer o caminho em busca da chave que abriria a caixa do tesouro.

Nota 02

O caminho em busca da chave pode ser capcioso, então para começar essa árdua jornada seria preciso percorrer até minha alma, talvez seria proveitoso fazer notas durante o processo, mas Deus sabe que eu penso mais do que escrevo.

Sempre carreguei comigo um sentimento de perda e vazio que por diversas vezes me desmanchou em lágrimas. Mas como o vazio pode perder algo? Nunca carreguei esse sentimento pesaroso como carrego hoje. Esses dias andei me sentindo diferente, mas a realidade sempre volta e ainda continuo a contar mentiras e mais mentiras do quanto estou bem. - você é tão zen, não há traços que indiquem desequilíbrio! - Equilíbrio, quase tinha me esquecido, contínuo escolher passar pela dor. Meus olhos estão pesados, imploram para que eu os permita fechar. Mas a escuridão se torna amigável quando a luz te traz pesar.

Já é noite enquanto escrevo essas breves palavras em meu quarto. Admito que já faz um tempo que estou a encarar as luzes da cidade que perpassam a janela e chegam até mim. Peguei-me perguntando em quantos lá embaixo, no mar de estrelas terrestre, conseguem entender o quê cresce dentro de si? Ah! Que pergunta capciosa a minha.

Nota 03

O dia não tinha acabado e a angústia havia dado lugar ao um sentimento neutralizado. O que me fez pensar: Se o mundo acabasse hoje, não estaria preparada para partir, mas teria preparação para tamanho feito?

***

Já fazem uns dias que penso que posso morrer a qualquer momento, o aperto acelerado dentro do meu peito faz meu coração estremecer, continuo tentando encontrar equilíbrio, mas quanto mais eu penso, falo ou escrevo sobre isso mais infantil e sem importância me sinto. O trabalho tem se tornado um fardo que preciso carregar dez horas por dia. A menina de dezessete anos cheia de energia ao entrar na faculdade sonhava com a história que já havia escrito sobre si mesma, a mulher que se torna a cada dia aos vintes e poucos anos desacreditou desses rascunhos há muito tempo.

Nota 06

Talvez eu nunca me encaixe no mundo como eu me encaixo em meus sonhos. Continuo me alimentando de ilusão, é insaciável meu desejo de ser alguém, me tornar alguém.

Os anos de minha vida passaram pela minha janela, como corredores em uma maratona ou, talvez, como um dia de domingo no final de férias. Na verdade, me pergunto se um dia serei capaz de entender a complexidade que há dentro de mim. Mas quanto mais penso em meu ser, menos me reconheço. Será que um dia serei capaz de olhar para o espelho de minha alma e reconhecer a pessoa que vejo nele? Sinto-me como um estranho dentro da minha própria casa, quando tudo o que eu mais desejo é pertencimento.

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