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Ensaio Sobre Ela

  • Graziella Catto
  • 2 de nov. de 2016
  • 3 min de leitura

O dia amanheceu mais uma vez em Higienópolis. O sol brilhava no céu que estava azul como nunca. A brisa dispersava as nuvens aos poucos, o leve vento fazia as folhas secas voarem para longe, nas árvores das calçadas os pardais cantavam de alegria com o belo dia que nasceu e na casa de número 5, na Rua da Liberdade, morava Clarice.

Clarice era uma jovem de cabelos castanhos, pele alva e de um metro e sessenta. A casa onde morava era espaçosa e um pouco desorganizada. Ela amava ler. Os livros que não couberam na sua pequena biblioteca ficaram espalhados pela casa, já os livros que ela não gostava se tornaram porta copos ou outra coisa do tipo, foi isso que aconteceu com o guia visual de Cuba que sua irmã lhe deu de presente. Lá estava ele: em uma sala, em cima de um aparador, comportando um pequeno jarro de flor, um livro cheio de lugares lindos e exóticos para conhecer.

A luz do sol adentrou a janela e acordou Clarice que, lentamente, se levantou e sentou na beira da cama, com a visão meio turva e embaçada ela procurou o estojo colorado de seus óculos vermelhos no criado-mudo, assim que o encontrou, colocou-o no rosto e se espreguiçando, caminhou descalça em direção ao banheiro, ligou a torneira da banheira e a deixou encher. Enquanto andava até a cozinha para pegar uma vela aromatizada Clarice tropeçou no gato que brincava com pulseiras de argolas douradas – Louie, não! Essas são as minhas favoritas! – o gato olhou-a com descaso e correu, irritada, ela pegou as pulseiras e colocou-as em cima de uma mesinha localizada no corredor que ligava o quarto à cozinha.

Logo após o banho, Clarice foi preparar o café da manhã, no mesmo momento em que o aprontava começou a olhar duas fotos coladas na porta da geladeira. A primeira foto era de um casal, sua irmã mais velha e o marido em um restaurante na França, a segunda foto era de sua sobrinha Anna com sete anos de idade, quando ainda morava no Brasil, Clarice não os via há quase cinco anos, mas estava feliz porque retornariam da Europa em uma semana. Terminou o café.

A doce tarde chegou com o vento assobiando entre as frestas das janelas. Clarice apanhou um papel e um lápis com uma corujinha lilás na ponta e começou a fazer uma lista de compras. Pegou a chave do carro, o celular, que havia tempo que estava ultrapassado, e a sua carteira preta, na qual ela guardava dois pesos argentinos como lembrança de uma viagem de um ano atrás. No centro da cidade, ela comprou como presente de boas vindas para sua sobrinha um exuberante anel de pedras vermelhas dentro de uma linda caixinha de couro avermelhado com um lacinho branco na tampa, para sua irmã um relógio estilo retrô e um óculos de sol com as hastes imitando madeira para seu cunhado. Quando Clarice chegou a sua casa, na Rua da Liberdade, guardou as compras do mercado na geladeira e embrulhou os presentes.

A aconchegante noite chegou. E no momento em que procurava algo interessante na estante, ela achou entre os livros de romance e ficção cientifica o DVD 15 Minutos francês e puxou-o dentre os livros, Clarice achou graça quando começou a lembrar de quando o comprou. Ela queria apreender o idioma para visitar a irmã e a sobrinha na França. Como estava muito ocupada com o trabalho acabou comprando esse DVD que prometia com 15 minutos de pratica diários se aprenderia o idioma, o que foi uma grande bobagem. Clarice colocou o DVD de volta na estante, foi até a cozinha, pegou um copo de whisky, acendeu um cigarro e, sentada em uma poltrona de frente para a janela, começou a ler um bom livro enquanto tocava suavemente Knockin’ on Heaven’s Door , de Bob Dylan, em um toca disco no fundo da sala. Assim, acabou mais um dia na vida de Clarice Blanche.


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